quinta-feira, 2 de junho de 2016

E se fosse comigo...

                Não sei por onde começar… Talvez seja melhor começar pelo princípio:
Ontem acordei com um pressentimento estranho, não é normal acordar às três da manhã a ouvir a minha mãe ao telefone com a tia. A partir de então estava com uma dificuldade em adormecer imensa. Depois de duas horas à espera que a minha mãe me viesse acordar, perguntei-lhe o que estava a decorrer. Ela disse-me que a tia ligara a chorar, dizendo que o meu primo tinha sido encontrado morto num bote. Também disse que, felizmente, ela tinha sido salva e estava prestes a regressar a Portugal. Fiquei muito feliz por ela, mas chorei tanto, tanto pelo meu primo, que nem é bom pensar.
            Os meus pais sugeriram que era melhor não ir à escola, mas eu teimei em ir. Que erro que acabara de cometer, pois passei o dia inteiro a pensar como estava a tia e o meu priminho.
            Cheguei a casa estafado e vi que a minha mãe me aquecia o almoço. Questionei sobre o pai e ela disse que foi buscar a tia ao aeroporto e que só regressava muito tarde. A fome era pouca e nem metade do almoço comi, sempre a pensar no mesmo.
            À noite não conseguia adormecer com um motivo bem óbvio. Matutava sempre nas perguntas: Porque me calhou a mim? Que mal fiz eu, para merecer isto? A forma como este dia acabou levou-me quase à descrença. Cada memória daquele início de dia trazia ao coração um aperto estranho, desconfortável. Sentia um vazio tão grande que parecia que me tinham roubado tudo aquilo que ninguém me podia ter tirado. E o pior… era que o coração queria que te levantasses do dia para a noite, mas a razão sabia que as coisas não se iam resolver assim. Não tinha alma, não tinha espírito, não tinha aquela paixão que me faz sentir quando não penso com o coração. Mas aos poucos fui-me levantando.

            Sabem qual é o nosso grande erro? Adiarmos aquela conversa, aquele pedido de desculpas, aquele perdão, aquele beijo, aquele reencontro, só porque achamos que amanhã ainda estaremos cá todos. Esse é o erro. Não deixem nada para amanhã. O amanhã pode não chegar… 

Diogo Duarte, Nº5, 6ºC

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